Quem foi Cairbar Schutel?

 

Nascido na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor, e ficando órfão de pai e mãe, antes dos dez anos, Cairbar Schutel, ficou sob a tutela de seu avô, Dr. Henrique Schutel.

 

Estudou no Colégio Nacional, depois no Pedro II, onde cursou até o segundo ano.

 

Foi ele um menino inquieto, inteligente, e muito travesso, pois se fazia de palhaço, para ver rir os colegas de classe, indo comumente parar na secretaria da escola para a reprimenda.

 

Em razão das reprimendas no próprio colégio e também na casa do avô, resolveu fugir, indo para a casa de uma irmã de criação, e decidiu não mais estudar, quis trabalhar.

 

Iniciou numa farmácia para praticar, e acabou assim escolhendo a profissão que o acompanharia por toda a vida.

 

Aos dezessete anos, já era um farmacêutico prático respeitável.

 

Desejoso de fixar residência no interior de São Paulo experimentou Piracicaba, depois Araraquara e finalmente, como descreveu, Joaquim Alves, em sua expressão poética: - “E mergulhou seu sonho de esperança na floresta densa do antigo povoado de Água Vermelha”, que mais tarde seria a pequena “Vila de Matão, do Senhor Bom Jesus das Palmeiras”, onde Cairbar estendeu seus olhos, além do matagal verdejante, sentindo no recôncavo do coração, toda a beleza e nostalgia deste formoso país, onde sem perceber, sua figura, no futuro, se projetaria como apóstolo da nova fé! Seu espírito heroico sentia, naquele instante, toda a pujança deste gigante da América, cujo destino estava traçado pelas compassivas mãos de Jesus, a ser a Pátria da Boa Nova e o Fraternal Coração do Mundo!.  

 

E prossegue o JÔ, como se a sua alma se confundisse com suas próprias palavras: - Recordemos as anotações do espírito Humberto de Campos, através das mãos de Chico Xavier, a descrever a geografia espiritual da Pátria do Cruzeiro:

 

“Todos os estudiosos que percorreram o Brasil, estudando alguns detalhes dos seus oito milhões e meio de quilômetros quadrados, se apaixonaram pela riqueza das suas possibilidades infinitas. Eminentes geólogos definiram-lhe os tesouros do solo e, naturalistas ilustres lhe classificaram a fauna e a flora maravilhados ante as suas prodigiosas surpresas”. 

 

“Nas paisagens suntuosas e inéditas, onde o calor suave dos trópicos alimenta e perfuma todas as coisas, há sempre um traço de beleza e de originalidade, empolgando o espírito sedento de emoções! Mas, se numerosos pensadores e artistas notáveis lhe traduziram a grandiosidade de mundo novo, cantando “lá fora” as inesgotáveis reservas, todo esse espírito analítico, não passou da esfera superficial das apreciações, porque não viram o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estradas cheias de esperanças e luta, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é a ”flor amorosa de três raças tristes” na expressão de um dos poetas mais eminentes”. 

 

“As reservas brasileiras não se circunscrevem ao mundo do aço do progresso material, mas se estendem, infinitamente, ao mundo do ouro dos corações, onde o país escreverá a sua epopéia de realizações morais em favor do mundo”.

 

“Grande pátria brasileira, nobre, altiva, hospitaleira. Tens no passado o penhor de um futuro de ordem de progresso e de esplendor”. 

 

Matão de hoje, cidade de paz!

 

Quem se atreveria a enfrentar a terra e a mata para fundar ali uma farmácia?

 

Cairbar, o moço!

 

A “FARMÁCIA SCHUTEL” era frequentada pelo vigário, pelo delegado, pelo professor e o agente postal.

 

Cairbar sentia-se bem ali, no convívio simples daquela gente da terra a que se afeiçoara.

 

O operoso, humanitário e patriótico cidadão Cairbar de Souza Schutel, empregando todo o largo prestigio político de que gozava, e comprando com seus próprios recursos, o prédio para a instalação da câmara, conseguiu por intermédio de um projeto apresentado e defendido, pelo deputado, Dr. Francisco de Toledo Malta, a criação do Município de Matão.

 

Cairbar era Católico Romano, por tradição, mas nos seus sonhos, surgiam seres luminescentes que lhe falavam de um maravilhoso reino extraordinário, onde a paz e o amor, o trabalho e a ordem, o progresso e a luz, eram alicerces desse reino, e Jesus, o construtor divino do plano, contava com ele, para os primeiros alicerces em terras de Matão, que se projetariam além das fronteiras.

 

Diante das fulgurações, como Paulo de Tarso, ele teve também a sua estrada de Damasco, abrindo-lhe novos horizontes de espiritualidade, diante dos olhos maravilhados, ante tanta beleza

 

Seu coração de moço se desdobrava ao encontro da mocidade brasileira, e a voz prosseguia num convite à renovação: 

 

“Ergue-te e vem! Vem mostrar ao mundo que a mocidade não é o gozo do presente, que foge entre o esquecimento do passado e a imprevidência do futuro. Oh! Acorda. Acorda do teu sono enquanto há luz nos caminhos de tua vida. Vem empreender a conquista de ti mesmo, se não queres perder-te na noite trágica da dor que te espreita. Vem! Mas vem disposto a lutar e a sofrer, porque conosco não fruirás as delicias da paz, nem lograrás a compreensão do mundo. Vem mostrar que a mocidade é semente que germina a luz da experiência e frutifica ao calor de cada esperança. Mocidade é contínuo aprimoramento do espírito e não submissão aos prazeres, mas domínio de paixões; não é desregramento de conduta, mas disciplina de espírito. Não é ímpeto desgovernado, mas impulso criativo”.

 

“Mocidade não é subversão de conceitos, mas seleção de valores; não é servidão mental, mas afirmação de personalidade”.

 

“Vem, pois. Desperta à nossa voz e ergue-te das sombras da morte e anda para a luz da vida”.

 

“Fixa o olhar na meta de tua trajetória e cobra ânimo para subir. Abre na volúpia da ascensão, os braços para o infinito e recebe na alvorada da tua redenção, o ósculo bendito de Deus”.

 

E diante da visão maravilhosa, Cairbar ouvia as vozes a lhe falarem ao coração moço, de um futuro próximo ante o esplendor de uma nova fé, num róseo porvir de esperança.

 

O senhor Calisto foi quem lhe amparou nos primeiros passos, e a leitura das obras de Kardec abriu-lhe o entendimento em torno da Doutrina Espírita.

 

Foi, como o descreve Eduardo Carvalho Monteiro, “O Bandeirante do Espiritismo”.

 

Foi em 15 de Julho de 1904, que Cairbar tomou o primeiro contato com o Espiritismo.

 

Um ano depois, em 15 de Julho de 1905, fundou o Centro Espírita “Amantes da Pobreza” e a 15 de Agosto, deste mesmo ano, fundou o jornal “O Clarim” e, em 15 de Fevereiro de 1925 lançou a “Revista Internacional de Espiritismo”.

 

Polêmicas, calúnias, perseguições, apupos, nada impediram que o pioneiro audaz, rompesse com as muralhas sombrias da ignorância, conduzindo seu ideal qual chama fulgurante até o derradeiro instante de sua vida terrena.

 

Escreveu muitos livros de boa seiva doutrinária, embora não fosse um clássico da língua. Em estilo claro e despretensioso, escrevia para a gente simples e humilde.

 

Suas obras: Gênese da Alma - Espiritismo e Protestantismo - Histeria e Fenômenos Psíquicos - O Diabo e a Igreja - Médiuns e Mediunidade - Interpretação Sintética do Apocalipse - Cartas a Esmo - O Espírito do Cristianismo - Parábolas e Ensinos de Jesus.

 

Retornou à Pátria Espiritual na tarde de 30 de Janeiro de 1938, mas estará sempre conosco, através do exemplo de trabalho e perseverança no bem.

 

Colaboração: Miguel Pereira

 

Obs.: a pesquisa desta matéria foi colhida de um trabalho realizado em 1975, pelo saudoso Joaquim Alves o tão querido “JÔ”.