Biografias

Peixotinho

 

 

No dia 16 de Junho de 1966, na cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, deixava o corpo físico, e desta vez definitivamente, o famoso e evangelizado médium espírita - Peixotinho.

 

A Federação Espírita Brasileira, o Conselho Superior da FEB e o Conselho Federativo Nacional se fizeram representar pelos confrades Paulo Affonso de Farias, José Salomão Misrahy e Abelardo Idalgo Magalhães, respectivamente.

 

Ao sepultamento acorreram centenas e centenas de confrades dos mais diversos pontos do país.

 

Francisco Peixoto Lins - o Peixotinho, teve ação destacada no movimento espírita brasileiro, já por suas excepcionais qualidades mediúnicas, principalmente no que tange às materializações, já pelo seu comportamento moral como homem de bem.

 

Destarte, não poderíamos deixar de consignar alguns dados biográficos desse companheiro, dados que nos foram fornecidos pelo seu filho Dr. Guilbert Vieira Peixoto. Ei-los:

 

Peixotinho, como todos o conheceram, nasceu em 1 de Fevereiro de 1905, na cidade de Pacatuba, no Estado do Ceará, filho de Miguel Peixoto Lins e Joana Alves Peixoto. Embora nascido em 1905, para efeito do registro civil e, destarte, para todos os efeitos da vida material, seu nascimento se deu em igual data do ano de 1907.

 

Passou sua infância em Fortaleza cercado pelo afeto dos tios, eis que muito cedo sua mãe deixou o plano terrestre. Iniciou sua educação em um seminário. Nessa ocasião lhe vieram dúvidas sobre a existência de Deus, pois seu espírito não aceitava as explicações que recebia para justificar as diferenças sociais tão marcantes no Nordeste, naquela época tão mais sofredor que hoje. Também não aceitava as justificações que lhe ofereciam para o nascimento dos anormais. Assim, vendo o quadro do sofrimento estampado aos seus olhos, começou a descrer da bondade de Deus e de sua existência, até que, pouco mais tarde, a Doutrina Espírita lhe explicasse as causas dos efeitos que conhecia.

 

Aos catorze anos de idade, com o destemor próprio do cearense, talhado para uma vida de sacrifícios, deixou sua terra em busca do Amazonas, àquela época o Eldorado do nordestino. Durante dois anos trabalhou na extração de borracha nos seringais amazonenses, enfrentando, além da solidão, os perigos normais da região e a exigüidade de recursos da época.

 

Retornou ao Ceará, e aí, na terra de Bezerra de Menezes, surgiu sua mediunidade em forma obsessiva, pois no início era envolvido pelos Espíritos sofredores que o faziam um valentão. Apesar do seu físico infantil, era dono de grande força de vontade e, sabendo o que lhe poderiam fazer os obsessores, procurou reagir, não saindo de casa, isso depois de um episódio em que, após travar luta com vários homens, foi transportado para uma praia deserta e distante, fisicamente ileso. Mas os Espíritos das trevas não desanimaram ante sua disposição de não sair de casa, vindo-lhe, então, um caso de desprendimento, sendo considerado morto, estado de que despertou após mais de 20 horas de amortalhado.

 

A seguir lhe veio uma paralisia que o prostrou por seis meses, sem que a família procurasse os recursos do Espiritismo: era católica praticante e temia envolver-se com o Espiritismo. Contudo, um dia, a ativa e abnegada Federação Espírita Cearense enviou confrades a visitá-lo e esses companheiros, com passes e preces, o libertaram da falsa enfermidade. Foi então que começou seu aprendizado na Doutrina Espírita, sendo Viana de Carvalho um dos seus abnegados orientadores.

 

Em 1926 veio para o Rio de Janeiro, então Capital da República, e se apresentou para servir no Exército, na Fortaleza de Santa Cruz. Posteriormente foi transferido para Macaé, no Estado do Rio de Janeiro. Foi em Macaé que propriamente iniciou sua prestação de serviços ao Espiritismo, tendo aí, com um grupo de irmãos, vários dos quais já no plano espiritual, fundado o Grupo Espírita Pedro. Também em Macaé, em 1933, constituiu família, contraindo matrimônio com Benedita (Baby) Vieira Peixoto.

 

Sua vida militar foi intercalada de transferências, mas, para onde era transferido, fixava residência com a família e ali fundava um posto de receituário homeopata. Assim foi em Imbituba (Santa Catarina), Santos, Rio de Janeiro, Campos, etc.

 

Em 1945 foi transferido de Imbituba para a Fortaleza de São João, no Rio de Janeiro. Novamente no Rio, reencontrou-se com vários amigos, entre os quais Antônio Alves Ferreira, velho confrade do Grupo Espírita Pedro, em Macaé, nessa época já residindo no Rio. Das reuniões semanais na residência desse confrade nasceu um culto doméstico que, em poucos meses, se transformou no Grupo Espírita André Luiz, cuja sede provisória era, então, no escritório de representações do confrade Jaques Aboab, à Rua Moncorvo Filho, 27, sobrado.

 

No Grupo Espírita André Luiz prestou seus serviços mediúnicos, no convívio amigo e fraterno dos irmãos que se uniram àquela casa. E, durante esse período, enquanto residiu no Rio de Janeiro, teve a felicidade de reuni-los em sua residência, todos os domingos.

 

Do Rio de Janeiro foi para Santos. Isso em 1948. Em Santos freqüentou o Centro Espírita Ismênia de Jesus.

 

Foi em 1948, antes de mudar-se para Santos, que se deu o seu sonhado encontro com Francisco Cândido Xavier, o Chico. Muitos outros se sucederam e, em Pedro Leopoldo, junto ao aconchego carinhoso do Chico, várias foram as reuniões de materialização e de tratamento realizadas.

 

Grande número das sessões no Grupo André Luiz e em Pedro Leopoldo são narradas por Ranieri em "Materializações Luminosas".

 

Transferido para Campos em fins de 1949, iniciou seus serviços no Grupo Espírita Joana D'Arc. Pouco depois, com o crescimento da freqüência no culto doméstico que fazia para seus familiares, nasceu o Grupo Espírita Aracy, seu guia espiritual e que, na última encarnação, fora sua filha. Ao Grupo Aracy dedicou seus últimos anos de vida terrena.

 

Apesar de sua eficiência no receituário, foi um sofredor, portador de asma, e que compreendia ser essa a sua provação. Apesar de todos os sofrimentos, era alegre e brincalhão, e por muitos considerado uma criança grande. Como médium soube viver, sem nunca comerciar seus dotes mediúnicos. Viveu pobre e exclusivamente dos seus vencimentos de oficial da reserva do Exército, reformado que foi no posto de capitão. Manteve sempre grande zelo pelos princípios esposados por Kardec, fazendo por onde, nos Grupos ou Centros por ele fundados, nunca existisse intromissão de rituais ou quaisquer influências alheias à doutrina do Codificador. Dedicou-se muito ao tratamento de casos de obsessão, chegando mesmo a, por várias vezes, levar doentes ao próprio lar, onde os hospedava junto de sua família. Passou por testemunhos sérios e sofreu ingratidões que soube perdoar, não desanimando nunca de servir.

 

Desencarnou às seis horas da manhã do dia 16 de Junho de 1966, em Campos, cercado do carinho da família.

 

Cumpriu sua missão e retornou ao plano espiritual, deixando viúva a Sra. Baby Vieira Peixoto e nove filhos.

 

Este é o companheiro que partiu para a Grande Pátria, honrado pelo seu trabalho, deixando, é bem verdade, a saudade nos corações de quantos tiveram a felicidade de conhecê-lo pessoalmente, mas, bem maior é a alegria nos Planos Maiores da Espiritualidade, em recebê-lo na condição de Servo Fiel.

 

Que os pensamentos de todos os espíritas-cristãos de nossa terra possam elevar-se a Deus e a Jesus em benefício do nosso querido irmão PEIXOTINHO.