artigo da semana

-FALA JOÃO, O BATISTA-

Trecho do Capítulo IV - Fala João, o Batista, do livro Vida de Jesus ditada por Ele Mesmo

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

Venho a chamado de meu glorioso irmão. Com o corpo fatigado e a alma entristecida, Jesus precisava de descanso e consolo. Tinha ouvido falar da minha pessoa e desejou ver-me. Perguntai, irmãos, pelo comedimento grave e docemente familiar de Jesus; perguntai a Jesus pela força de vontade apaixonada de João. Ambos vos responderemos que, a natureza dos fatos de nossa existência terrestre, guardava o cunho de nossa natureza espiritual. Em Jesus era o reflexo da misericórdia divina e em João era a necessidade de castigar a matéria. A figura de Jesus assumia, às vezes, a inquietação aflitiva das dores humanas; todos os juízos de João, em compensação, fundamentavam a razão de sua existência na maldade e incapacidade dos homens. O semblante de Jesus iluminava-se com a grave, porém expansiva alegria de pai e de pastor; no semblante de João não descobrireis mais do que o negro, grande e inalterável pensamento da degradação humana e das vergonhas dos conquistadores. Todas as ternuras se veem manifestadas em Jesus e sua pureza lhe forma um quadro de poesia divina. João apartava-se com alegria dos homens e sua piedade estava mesclada de ira e desprezo. Bendizei a Deus, irmãos meus, pelas revelações de Jesus, e quanto a João, que acrescenta a estas revelações o concurso de sua palavra, ficai convencidos da ascendência de Jesus sobre ele, porém, não do desejo de João vir até vós. Jesus sofria desde que havia deixado a seus bons pagãos, como ele os chamava, e a lembrança dos momentos felizes que tinha passado ao lado deles o entristecia. Mas Jesus era o puro espírito da pátria celeste e os apaixonados movimentos de ternura não tinham que lutar em sua alma com o rígido sentimento de um dever rigoroso. A missão do apóstolo se mostrava, mais do que em outra coisa, no esforço supremo que o arrancava das fáceis alegrias para lançá-lo nos braços de penosas apreensões, de provas humilhantes, de poderosos inimigos, da morte, que ele buscava como o mesmo santuário de seu pensamento fraternal e seu amor divino. Jesus sabia que depois de sua morte ele pairaria sobre o mundo humano, e media com a paciente emulação de sua alma essa separação com a convicção de que um dia, mediante progressivas luzes, se chegaria à reunião eterna. Jesus queria todos os horrores da morte para lançar sobre sua vida de virtudes, esse facho derradeiro que se chama martírio, e apresentar-se diante de Deus com os estigmas do sacrifício. Passemos a relatar a visita que Jesus fez a João na cidade de Betabara. Observemos a figura carnal dos dois apóstolos e fixemo-nos na delicada harmonia de seus espíritos com seus invólucros mortais. Desçamos ao nível dos escritores humanos, para satisfazer vossa curiosidade, e revelemo-nos com um paciente esforço de memória a respeito de coisas perdidas entre séculos de trabalhos espirituais constantes e de sublimes visões. Chamemos nossos pensamentos para a Terra e iluminemos com detalhes corporais o caminho da alma para as eternas alegrias. Apresentemos neste livro o retrato da forma aparente do Espírito, e purifiquemos nosso pensamento com humildade e rapidez.

 

Jesus era alto de estatura, rosto pálido, olhos negros, cabelos castanhos e a barba, que usava comprida, era quase vermelha. A forma da cabeça era larga e enérgica, a fronte desenvolvida e com pouco cabelo, o nariz reto, os lábios sorridentes e o seu modo de caminhar denotava a nobreza. A pobreza de suas vestes não era suficiente para esconder a riqueza dessa natureza resplandecente de elevação, não obstante a origem humilde de sua família e a modéstia de seu caráter. A palavra atraía e inspirava afeto à pessoa deste filho de carpinteiro, que amava as crianças e que apontava os pobres como os primeiros no reino de Deus. A perversidade estacava diante de seu olhar e numerosos pecadores vinham implorar penitência e compaixão aos pés deste divino dispensador de graças e absolvições. Houve mulheres atraídas pelo prestígio de sua beleza física e de sua eloqüência, mas elas se ruborizavam diante da pureza de seu espírito e o amor carnal se fundiu com o sentimento de exaltação religiosa. Tu só, ó Maria, introduziste uma sombra nesse coração adorável e do alto da cruz Jesus te dirigiu um olhar de censura e de carinho. Essa cruz era ao mesmo tempo a tua condenação e uma promessa de proteção para o porvir; dela tu guardas a tristeza na alma e uma promessa no espírito; dessa cruz tu guardas uma imagem dolorosa e uma luminosa auréola e a justiça de tua culpa terá sido o deslumbramento de tua alma dentro de um corpo emurchecido.

 

Jesus era o apoio dos fracos, a doçura dos aflitos, o refúgio dos culpados e o mestre de elevados ensinamentos para todos os homens. Alegrias inefáveis produzia sua palavra penetrante nos corações de todos os que o escutavam, assim como sua clarividente familiaridade. Preciosas honras estavam ligadas à sua amizade e as almas simples de seus apóstolos, como as mais bem temperadas entre os seus defensores de Jerusalém; jamais encontraram felicidade mais completa, tranqüilidade mais profunda do que durante suas conversações e depois de suas expansões de alegria e de alento. A pátria e a família de Jesus se encontravam em todas as partes.

 

“Os homens são meus irmãos - dizia -, e todos os meus irmãos têm direito a meu amor. “Onde estão as leis e os costumes da família de meu país, da pátria de meus progenitores? “No livro eterno. “E eu vos digo: O que não trate os homens como irmãos, não será recebido na casa de meu Pai. “O que diga: Esse homem não é da minha pátria, não entrará na casa de meu Pai. “O que faça duas partes: uma para sua família e a outra para si, não gozará dos dons e dos favores do Pai.
 “O que não combata a adversa fortuna em nome da família universal, apegando-se tão-somente aos bens de seu pai e de sua mãe, não verá a alegria da casa paterna e não encontrará outra coisa a não ser o abandono e o isolamento depois da morte. Abandonai, pois, a vosso pai, a vossa mãe, a vossos irmãos e a vossas irmãs antes que condescender no olvido da lei de Deus. Esta lei exige o comovedor sacrifício do forte em favor do fraco e da família espalhada por toda a Terra. “Eis os membros de minha família, eis os filhos de meus irmãos, dizia ele apontando os homens e as crianças que o rodeavam. “Irmãos meus, amigos meus, filhos meus, fazei vossos preparativos de viagem e marchai para a pátria do Pai Celeste. Os pobres serão recebidos em primeiro lugar e os ricos, que tenham abandonado tudo para seguir-me, tomarão parte na alegria geral. “Irmãos meus, amigos meus, filhos meus, segui-me e mantende-vos firmes na humildade e na pobreza.”

 

Publicado pela editora  Comercial de Livros 33 Ltda. e extraído da  página http://www.escoladaluz.com.br/uploads/books/c9992932958637075dad547d8841ca90.pdf