artigo da semana

-SOBRE O LIVRO ROMA E O EVANGELHO-

Por José Amigó e Pellícer

Uma colaboração de Estênio Negreiros (estenio.gomesnegreiros57@gmail.com)

 

 

S I N O P S E

 

O Livro Roma e o Evangelho, que foi compilado por D. José Amigó y Pellícer contém os estudos filosófico-religiosos e teórico-práticos feitos pelo Círculo Cristão-Espiritista de Lérida, na Espanha, em 1874, e por não poderem conciliar a estreiteza da Igreja de Roma com a largura da obra traçada por Deus, sentiam que algo de humano precisava ser removido — e que o Espiritismo devia ser o motor de tal depuração do Evangelho de Jesus Cristo.

 

P R E F Á C I O

 

Em meados do século XIX desponta na América o movimento conhecido como Espiritualismo Moderno, cujo marco histórico é o famoso caso das Irmãs Fox, em Hydesville, Estado de Nova Iorque: a aparição sequencial de um Espírito desencadeou a curiosidade e ousadia de se evocar os “mortos” a fim de que se pudesse descortinar parte da espiritualidade que, de pronto, vinha evidenciar a sobrevivência da morte pós-morte. Daí em diante veio a febre das sessões de Mesas Girantes. Essa fenomenologia espiritualista cruza o Atlântico e chega aos grandes centros urbanos da Europa, ganhando contornos cada vez mais sofisticados, culminando com a sistematização da Doutrina Espírita, codificada pelo admirável mestre das letras e ciências Alan Kardec, que, através de suas obras literárias — a começar pelo monumental O Livro dos Espíritos — e sua irrepreensível liderança, exporta da França para todo o globo terreno o Espiritismo, a terceira revelação de Deus para a Humanidade, sob o pálio do Espírito de Verdade. Eis que as luzes do Espiritismo chegam às terras espanholas, despertando as mais diversas impressões. Enquanto uns facilmente se encantavam e se convenciam com a novidade, outros — mais comedidos, ou mesmo refratários à nova onda — se postavam com gravidade frente aos preceitos transformadores e desafiadores da Doutrina Espírita. Dentre estes últimos, podemos assinalar a personalidade que é o autor da presente obra: D. José Amigó y Pellícer. Junto com um seleto grupo de amigos, sendo eles notáveis filósofos, clérigos e homens da ciência, instalaram na cidade de Lérida, na Catalunha, Espanha, um grupo para apreciar — e, quem sabe, desmascarar — o movimento espírita que vinha de Paris. Sim, estavam eles empossados do sério propósito de averiguar, com todo o rigor, as proposições espíritas e, diante da real contingência que se apresentasse, dar um parecer honesto sobre aquelas ideias de “mediunidade”, “conversar com Espíritos”, “reencarnação”, “evolução espiritual” e “salvação pelo autodescobrimento” — ideias essas tão estranhas à cultura ocidental e ameaçadoras para a ordem religiosa e civil. A reunião desse seleto grupo de perscrutadores independentes resultou numa grande especulação local: finalmente, aquelas esdrúxulas subversões oriundas da França seriam ridicularizadas pela retórica daqueles notáveis — assim se pensava. Ocorreu, entretanto, que o grupo — seguindo a lógica — acabou por averiguar a veracidade das manifestações espirituais e naturalmente absorver as excelentes conclusões filosófico-morais do Espiritismo, pelo que, então, em maio de 1873, transformou-se oficialmente em o Círculo Espírita Cristão, do qual D. José Amigó y Pellícer figurava-se como líder e porta-voz. O primeiro impacto positivo foi a comprovação da mediunidade, pelo exemplo concreto das experimentações feitos dentro do referido Círculo; em seguida, examinando os princípios filosóficos e religiosos, terminaram por aclamar que a revelação espírita vinha representar o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, cumprindo assim a promessa do envio do Paráclito, o Consolador, enviado do Pai, para ratificar a mensagem cristã, para trazer novas revelações da espiritualidade e, enfim, fazer-se permanente entre os homens de boa vontade. O seleto grupo estavam cientes que aquela nova doutrina lhes implicava um rompimento com as tradições primitivas e um antagonismo com os interesses da igreja romana — e, portanto, um desafio pessoal para aqueles notáveis: enfrentar a ira reacionária do clero católico, pelo que, tiveram que pagar com a exposição pessoal e as perseguições de todas as ordens. Foram eles banidos do círculo religioso da igreja católica, caluniados, processados judicialmente, expulsos de suas ocupações profissionais, alguns inclusive presos. Contudo, D. José Amigó y Pellícer e seus confrades não fraquejaram: seguiram a consciência e sustentaram a convicção espirita até o final. Em nome do Círculo Espírita de Lérida, lançaram a revista espírita de Lérida: O Bom Senso (El Bueno Sentido), cujo primeiro número foi publicado em 15 de maio de 1875, tendo como epíteto “Revista de Ciências, Cristianismo, Democracia. Órgão do Livre-Pensamento Cristão”. Esse periódico manteve uma edição mensal até 1886, depois passando para quinzenal, até 1889. Entre seus colaboradores habituais figuravam: Amália Domingo Soler, J. Vernet, Fernando Martínez Pedrosa, o Visconde de Torres-Solanot, Julio Morales, Isidoro Pellicer, Manuel Sanz Benito, José Arrufat Herrero, Bernardino F. Izcoiquiz, M. de la Revilla, etc. Nesse ínterim, a revista sofreu várias sanções: no ano de seu lançamento, ficou dois meses suspensas por determinação do Governador Civil da província, a pedido de apelações do clero católico local; para suprir a sua ausência em outras suspensões, o grupo fez uso de outras publicações, como A Voz do Bom Senso e Luz na Alma. Roma e o Evangelho, uma copilação de José Amigó y Pellícer, é ao mesmo tempo uma histórico do Círculo Espírita de Lérida e uma mensagem profunda, com uma analise precisa das luzes da revelação espírita, adaptada e especialmente dedicada às mentes abertas dentre seus conterrâneos, respeitando a cultura local e os anseios de um povo já tão saturado de arcaicos apelos de uma igreja opressora e dispensadora de uma teologia tão obscura e prática litúrgica obsoleta. Todavia, mesmo em tempos já distantes e para culturas bem diversas daquela velha Espanha, Roma e o Evangelho não deixa de ser uma leitura proveitosa e até agradável, ainda mais considerando a possibilidade de conferir mensagens psicográficas de entidades tão excelsas, tais como: Maria de Nazaré, Lamennais, Santo Agostinho, João Evangelista e o próprio codificador do Espiritismo Allan Kardec.

 

O Editor

 

Do livro Roma e o Evangelho, traduzido do original espanhol conforme os direitos concedidos à Federação Espírita Brasileira. Extraído da página https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l99.pdf

 

Continua no próximo Artigo da Semana.

 

Fortaleza,CE, 09/12/2021